Magé, situada na Baixada Fluminense, é uma cidade com 460 anos de história (em 2025), a qual possui uma narrativa rica e complexa que transcende seu papel como o berço da primeira ferrovia do Brasil. Fundada em 1565, após a expulsão dos franceses do Rio de Janeiro, Magé foi cenário de ocupações, riquezas, conflitos e transformações que moldaram tanto o território fluminense quanto a história do país.
Capelas e Fé: Vestígios do Passado Religioso
Em 1628, no bairro do Góia, situado em Guia de Pacobaíba, foi erguida uma pequena capela de Nossa Senhora de Copacabana, destinada a abrigar a pia batismal da igreja de Suruí, que havia ruído.
Em 1650, em Vila Estrela, Simão Botelho construiu a capela de Nossa Senhora da Estrela dos Mares, localizada na antiga sede do extinto município da Estrela, ao qual Guia de Pacobaíba pertencia.
Vila Estrela e a Prosperidade Colonial
Entre 1720 e 1725, a abertura do Caminho do Proença transformou Vila Estrela em um ponto estratégico para o escoamento do ouro e de outras mercadorias, atraindo tropeiros e comerciantes.
Vila Estrela contou com fazendas produtivas, como a Barra do Estrela e o Retiro, que possuíam plantações de café, engenhos de farinha, olarias e escravos. Apesar do movimento comercial, Vila Estrela permaneceu pequena e efêmera, incapaz de reter as riquezas que por ali transitaram.
Em 1789, Magé recebeu sua carta de vila, consolidando sua relevância regional.
O Marco Ferroviário: Primeira Estrada de Ferro do Brasil
Em 1854, a Estrada de Ferro Mauá foi inaugurada, partindo da Praia de Mauá, na antiga freguesia de Guia de Pacobaíba. Este evento representou o início do transporte ferroviário no país, tornando a região estratégica para o comércio e o transporte de mercadorias.
Declínio e Extinção de Vila Estrela
A decadência de Vila Estrela acelerou-se com a abertura de novas estradas e da Estrada de Ferro Barão de Mauá, que favoreceu Guia de Pacobaíba.
Em 1891, a sede do município da Estrela foi transferida para Vila de Inhomirim (Raiz da Serra), e em 8 de maio de 1892, Vila Estrela foi extinta devido aos diversos casos de malária e cólera, sendo incorporada ao que hoje constitui o distrito de Magé.
Horrores de Magé: Bombardeios e Destruição
Durante a Segunda Revolta da Armada (1893), Magé foi alvo de bombardeios por parte de navios rebeldes da Marinha, devido à sua suposta ligação com monarquistas. A população, tomada pelo desespero, fugiu e grande parte dos registros históricos foi destruída, queimados no local onde atualmente se encontra a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Piedade, padroeira da cidade.
Patrimônios Ocultos: Ruínas e Paiol Histórico
Magé ainda preserva vestígios históricos ocultos nas matas, como o Paiol do século XIX, utilizado para o armazenamento de armamentos e pólvora. Vestígios das capelas do Góia e de Nossa Senhora da Estrela dos Mares revelam os caminhos da fé que atravessaram séculos e permanecem vivos na memória local.
Magé Hoje: História Viva
Muito além de ser o local da primeira ferrovia do Brasil, Magé é uma cidade de memória viva, onde passado e presente se encontram em cada pedra, rio e construção histórica. Entre vilas extintas, fazendas produtivas, portos movimentados, igrejas centenárias e patrimônios ocultos nas matas, Magé representa um testemunho vivo da formação social, econômica e cultural do Brasil.